segunda-feira, 6 de agosto de 2012

NÃO, À LEI DO MAIS FORTE



A 14 de Março a «Lusa”, noticiava, de Ponta Delgada – “O Presidente do Conselho Económico e Social, Nascimento Rodrigues, preconizou hoje, nos Açores, uma maior participação de todas as forças na elaboração de uma política social.
Na abertura da Conferencia Regional sobre “A Política Social Europeia”, Nascimento Rodrigues defendeu que uma boa governação não pode dispensar a participação social e que deve haver uma concertação estratégica entre os poderes públicos e parceiros sociais. Para ele sem uma sólida participação social há falência democrática e por isso, é necessário fazer desaparecer os egoísmos”.

(…)“ É minha profunda convicção de que não há saídas para os apertados atalhos sócio económicos em que nos encontramos (em Portugal como noutros países da União Europeia) sem se reforçar a liberdade, como fundamento da Democracia, e sem se arquitetar uma melhor Justiça Social como instrumento de paz entre os homens, entre as comunidades representativas dos seus interesses colectivos, e entre as nações.
A Liberdade é indivorciável da responsabilidade. A justiça, por seu lado, não é separável da boa lei e da sua efectiva aplicação, a tempo.(…)
Torna-se cada vez mais patente que, sem uma sólida democracia participativa, a própria Democracia, na sua vertente especificamente político-partidária e na sua expressão meramente parlamentar, é insuficiente. Há, pois, que complementá-la, e irrigar o tecido civil e as artérias circulatórias democráticas da sociedade através da participação dos parceiros sociais, do diálogo social e da concertação sócio - económica.(…).
Porém, se os parceiros sociais terão o direito de exigir ser cada vez mais escutados, mais compreendidos e mais intervenientes, eles próprios têm, também, requisitos a observar e deveres a cumprir em relação ao País, e perante os outros parceiros.
Requisitos de democraticidade interna e de autentica representatividade, antes de mais. As diversas organizações de natureza sócio - económica, profissional, ou de solidariedade social, não podem ser círculos de amigos influentes, corpos fechados sobre si próprios, meros instrumentos de captação de parcelas de poder só para alguns.(…)
Não há concertação estratégica se alguma das partes vier possuída de uma visão interesseira e de curto prazo. Não há concertação estratégica se qualquer das partes não se desapossar de egoísmos sectoriais, não se despir de malabarismos negociais, não se dispuser a conceder, para também receber, em verdadeira solidariedade nacional.
Será utopia? Não é. A alternativa é a falência da participação democrática; e essa conduz à pura lei do mais forte, nuns casos, ou à mera corporativização da democracia, noutro cenário, que seria diferente mas não melhor.”

   Ponta Delgada, 14.3.1994
 Excerto do discurso proferido pelo presidente do CES na Conferência Nacional Sobre Política Social Europeia “Livro Verde”