quarta-feira, 8 de agosto de 2012

EUROPA SOCIAL- MITO OU REALIDADE?


Em Setembro de 1994, o Henrique responde a perguntas do jornalista da APG ( Boletim mensal da Associação Portuguesa dos Gestores e Técnicos dos Recursos Humanos)
Pergunta: “Como poderão os portugueses afirmar os seus direitos sociais na construção Europeia? A Europa Social será um mito ou realidade?”
Nascimento Rodrigues- “ A Europa Social já é uma realidade, se bem que mais atrasada na sua implantação do que outras vertentes da construção europeia. O sentido dominante é o de que a Europa não quer ver destruído o seu sistema social e os seus processos de regulação social, conquistados ao longo de muitos anos. A maioria dos cidadãos sentem-se como expressão de valores humanistas e democráticos, próprios das sociedades europeias.
É certo, todavia, que os nossos sistemas sociais se confrontam com desafios muito sérios. Factores de ordem demográfica, alterações profundas nos sistemas produtivos, um desemprego estrutural persistente mesmo em fases de algum crescimento económico, o alastramento de bolsas de marginalidade e exclusão social, concorrência com outros blocos económicos – tudo isso, conjugado está a minar os alicerces em que se sustentou o chamado Estado Providência.
Parece que este tem, de ser reordenado, a fim de que não seja perdido. Isso implica um novo pacto de solidariedade entre gerações e, no âmbito de cada geração, entre diferentes grupos sociais. Implicará também, que o Estado não se ocupe de forma igualitária de todos: os menos necessitados terão de tratar mais de si próprios, libertando parte da sua maior capacidade para a aplicarem de acordo com as suas livres opções. Os mais carênciados necessitarão de protecção social mínima e, sobretudo, de meios e instrumentos que lhes permitam, também a eles, passar a ser menos desfavorecidos – logo mais livres. A coordenação das políticas sociais nacionais terá de ser feita de forma simultâneamente mais harmoniosa e flexível. Não falo em uniformidade, mas, sim, em melhor articulação flexível, porque cada sistema nacional tem particularidades que não podem e não devem ser esmagadas.”
In “APG” nº 5 Setembro 1994