terça-feira, 28 de agosto de 2012

DEMOCRACIA E CONCERTAÇÃO SOCIAL


Excerto da intervenção proferida pelo
presidente do Conselho Económico e Social
por ocasião do Seminário sobre
“As Legislações Nacionais e as Normas Internacionais do Trabalho.”
Promovido pelo Ministério do Emprego e Segurança Social e pelo BIT

(… ) “A concertação social é, do meu ponto de vista, tão vital para as sociedades mais ou menos desenvolvidas, como para aquelas que se situam, ainda, em patamares muito baixos de progresso material e de justiça social.
Em ambos os casos, embora devido a causas diferentes, ainda que com características diferenciadas e sob perspectivas de evolução não coincidentes – umas e outras confrontam-se, actualmente com problemas muito difíceis de solucionar.
Na Europa Ocidental será o elevado desemprego, a exclusão social, a necessidade de reganhar terreno na competitividade ameaçadora das economias mais directamente agressivas, a chamada crise do Estado-Providência, o fenómeno generalizado do envelhecimento da população, o reexame, não dos valores da Democracia, mas, sim, das facetas de relacionamento entre o Estado e o cidadão, da terra e do ambiente, do trabalho e do lazer, do emprego e do mercado.
Na África – e penso, em particular, nos vossos países – será a consolidação dos processos democráticos ainda tão recentes, o controle da dívida externa, e também o desemprego altíssimo, o sarar das feridas da guerra em alguns casos, a elevação dos níveis de escolaridade e de qualificação profissional em todos os casos, a edificação ou a reconstrução de estruturas básicas de saneamento, de vias de comunicação, de redes hospitalares – enfim, e numa palavra, o tremendo desafio de conseguir erguer, na vossa jovem independência de 20 anos, Estados de Direito e de Bem Estar Social, que só os utopistas ou demagogos julgarão poder fazer brotar  em alguns poucos anos!(…)
É preciso saber abdicar no acessório, para se chegar ao essencial. Pode ser necessário aceitar sacrifícios transitórios para estabilizar situações, criar condições para a recuperação económica e para o fomento da riqueza nacional – desde que, obviamente uma vez criada, venha a operar-se, depois, uma justa repartição do rendimento nacional.
O que não é possível é distribuir o que não existe. O que não é possível, por outro lado é deixar degradar a realidade social em benefício apenas de alguns.
A degradação social nunca conduziu ao progresso, é o espelho escancarado da injustiça e o germe larvar da destruição da paz entre homens e povos”.
Lisboa 2 de Junho 1995