domingo, 5 de agosto de 2012

É TEMPO !


“(…) Inserido na Europa Comunitária, vizinho da bacia mediterrânica e, portanto, do norte de África, postado face ao Atlântico e no Atlântico – Portugal detém uma posição privilegiada e talvez ímpar.
É que somos uma Nação multissecular, um povo culturalmente diferenciado, e por isso enriquecido na sua unidade nuclear, um Estado incontroversamente unitário. A tripolaridade que argamassa os caboucos do País e do Estado, e que gera a História da Nação andarilha pelas várias partidas do mundo – essa tripolaridade específica é um factor de coesão nacional, e também um instrumento de potencialidades de desenvolvimento, que porventura não soubemos, ainda, aproveitar devidamente. 
A nossa mais periférica situação no contexto da Europa reclama, é certo, que o princípio da coesão económica e social se exprima pela solidariedade concreta dos Estados mais desenvolvidos em relação aos mais atrasados (…).
A coesão económica e social não é, apenas, um imperativo dos nossos parceiros comunitários, em relação a Portugal. É, do mesmo modo, um imperativo a observar no próprio âmbito nacional. Sem ela, dificilmente se torna possível um desenvolvimento mais sadio do todo nacional, nas suas vertentes institucionais, económicas, sociais e culturais.(…).
Não nos iludamos: o que está em causa é de tal modo profundo, incerto, exigente, que esta mudança vai despoletar – seguramente – o aparecimento de modelos de vida, de educação, de trabalho, de organização, enfim, de “ser e estar” na sociedade, muito distantes dos que eram suposto estabilizados, e definitivamente adquiridos, há alguns anos atrás. Quais as respostas para estas questões? Que remédios para as chagas sociais que alastram? Aonde as soluções para os problemas cada vez mais difíceis com que as nossas sociedades se confrontam?
Não há respostas unívocas, remédios miraculosos, soluções concludentes.
E por isso mesmo, o dever de cidadania interventiva de cada um e de todos reganha duplicada exigência justificação e significado.
É tempo, não de buscar caminhos tecnocráticos, de despachar soluções populistas, de facilitar o que é difícil, de atirar para os vindouros o peso triplicado da gestão política sem horizontes estratégicos – é tempo, sim, de readquirir valores esquecidos, reacender princípios perenes, reaprender a solidariedade humana, repôr regras entretanto marginalizadas de civismo, de legalidade e de justiça.”

Ponta Delgada, 14.3.1994
Excerto do discurso proferido pelo presidente do CES na Conferência Nacional Sobre Política Social Europeia “Livro Verde”