terça-feira, 14 de agosto de 2012

FOGO MORTO


Há muitos, muitos, mesmo muitos anos atrás, (mais de meio século), precisamente em Setembro do ano de 1957, O Henrique ofereceu-me um livro. Seu nome – “Fogo Morto”. Autor, José Lins do Rego. Tinha, como sempre, (mesmo em livros técnicos da sua autoria), uma dedicatória. Dizia assim:
Eles não sabem o que lhes falta. Penso o que será tanta gente que, quando vai à janela, só vê o prédio do vizinho, os ramos de um quintal, os autocarros que rolam no asfalto, ou um saguão estreito. Dentro d’eles é a mesma coisa, um horizonte sem horizonte – um saguão.
A vida assim é fogo morto. Mas assim não! Eu quero chegar à janela, ver um saguão e para além do saguão ver a vida viva”.
Para mim, este texto representa toda a sua essência. A necessidade da vida em liberdade, da vida com horizontes. Saber que podia ser ele próprio, sem condicionantes, sem amarras, sem explicações inúteis que não queria dar.
Acredito que aceitou serenamente a morte. Ele sabia que para além desse saguão que vislumbrava, se abria o caminho da  liberdade perfeita, liberdade total, tantas vezes sonhada.

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