sábado, 27 de outubro de 2012

FORMAR E INFORMAR PARA A CIDADANIA


Actualidade Jurídica”- Portugal/Press nª 39/40- Setembro/Outubro de 2000

Pergunta- Despindo a “veste de Provedor” como é que o Dr. Nascimento Rodrigues encara a actual situação da Justiça?

Nascimento Rodrigues – “ Como sabe, de um ponto de vista institucional, o Provedor tem uma  muita reduzida intervenção no sistema judicial. A que tem, por força de reclamações sobre atrasos em processos judiciais, canaliza-os para o Conselho Superior da Magistratura, ou consuma-a por via informal. Deste ponto de vista, é gratificante o relacionamento do Provedor com as magistraturas.
Mas como cidadão, a minha própria experiência é frustrante. Sou testemunha de defesa de um amigo meu em processo  crime de difamação por ele instaurado, já lá vão uns sete anos. Já fui, com as demais testemunhas, mais de quinze vezes a tribunal para depor. Creio que só foi ouvida uma ou duas testemunhas e repetem-se os adiamentos das sessões de julgamento, por falta de arguidos. Isto descredibiliza a Justiça, cria ira nas testemunhas presentes, tem um custo enorme no plano da confiança no sistema judiciário e também no bolso dos contribuintes que somos todos (ou muitos)
Mas estou confiante porque a crescente informação sobre a crise do sistema judicial levou a um “toque de rebate” agudo. É preciso informal mais – mas é preciso, sobretudo, informar melhor, porque também os magistrados têm direito a ser ” julgados “ com verdade. Se há razões de queixa, sérias, também existem críticas infundadas e superficiais, fruto do desconhecimento ou, por vezes da má fé.
Daqui retiro uma conclusão, que tem a ver com outra vertente do papel do Provedor de Justiça: é absolutamente necessário formar e informar para a cidadania desde os bancos de escola até ao longo da vida. Logo, é necessário reforçar a difusão do conhecimento dos direitos dos cidadãos – quer dizer, reversamente, a sensibilização para os deveres cívicos.”
Pergunta – O que o satisfez mais, até agora, no seu ainda curto mandato? E o que o satisfez menos?
Nascimento Rodrigues – “ Satisfez-me encontrar uma equipe de colaboradores jovens e empenhados.
Satisfez-me receber algumas cartas de cidadãos anónimos, reconhecidos pela solução que encontrámos para as suas queixas. Satisfez-me perceber que esta instituição é olhada com muita confiança, pelos cidadãos e pelos poderes públicos.
O que mais me desagradou? Bem… algumas entidades públicas muito relapsas nas respostas à Provedoria! E também alguns queixosos: uns, tão repetentes que não entendem estar a atrasar, afinal, as reclamações dos seus concidadãos; outros, tão expeditos, que se queixam ao Provedor de actos que a Administração ainda não decidiu e não lhes comunicou! Tudo isto é também uma questão de cidadania”  
                                                                     
Lisboa, Outubro de 2000