domingo, 31 de julho de 2011

CAÇADA NO QUITEXE

Cheguei ontem do Quitexe. Em verdade, poderia dizer tantas coisas destes dias de verdadeiras férias que não fazes ideia! E contar-te afinal o quê? Que encontrei no mato, na paz, no bulício e na aventura das caçadas a “minha” Angola? Cada vez penso mais que são coisas impossíveis de narrar.

Parti na quarta de madrugada e cheguei ao Quitexe à hora de almoço. Viagem sem incidentes, claro, e sem nada digno de nota. Logo nesse dia, às quatro da tarde, parti para um “reconhecimento” às pacaças. Conseguimos encontrar duas à beira de uma lagoa, lá nos confins da mata onde um jipe (milagroso jipe!) conseguia penetrar. Contudo, elas fugiram a tempo e nesse dia nada mais se passou, até porque eu estava cansado da viagem e precisava de dormir.

Na quinta – feira fizemos uma caçada memorável. Partimos às oito e meia da noite e só regressamos às 4 da manhã do dia seguinte. Desta vez, tive bastante sorte, pois encontramos uma dúzia de veados e uma manada de pacaças que deveria ter para cima de quinze cabeças. Matámos duas e ferimos três, uma das quais eu. Foi uma caçada formidável!

Andamos pelo meio do capim, subimos morros, chegamos a meter-nos numa baixa alagada, tivemos uma avaria, mata bichámos bacalhau com batatas (e o que eu comi!), eu sei lá!

Sinto que não consigo contar o que se passou. Amanheceu quando estávamos no meio do mato, avariados, e foi uma das coisas mais belas a que tenho assistido. Só peço a Deus que Angola continue a ser esta paz que eu vivi durante estes dias, esta calma a que eu assisti. A situação económica pode-se considerar pior que péssima, sobretudo no Congo, Benguela e Moçamedes. A situação política também não é pacífica, infelizmente.

Mas, mesmo assim, Angola continua a dormitar nesta paz imensa que temos de preservar com todas as forças. Todos nós temos de lutar para que aqui não se passe nada do que está sucedendo por toda a África.

Vai ser difícil e estou convencido de que ainda vamos ter anos maus. Mas, se no fim de tudo, nós conseguirmos manter Angola os nossos filhos poderão trabalhar em paz nesta terra.

Luanda, 16 de Agosto de 1960