Receber sem dar não tem futuro; e dar sem receber não tem sentido. Pelo contrário a nossa cooperação tem sentido e tem futuro porque assentou no respeito mútuo, na confiança recíproca, no entendimento concertado e na concepção e execução conjugadas dos projectos e das acções em que ela se vai desentranhando.
Uma cooperação que se afunde em ofícios, que serpenteie por canais burocráticos ou se estorve em regulamentos minuciosos, é a antítese daquilo que é preciso saber fazer, e fazer, para se alcançarem os objectivos de ajuda ao desenvolvimento.
Mas deixem-me dizer também que estou certo de que não há cooperação duradoura sem alma que a alimente, e sem sonho que a sustente.
É preciso ter capacidade de viver para ter capacidade de realizar! É preciso ter capacidade de sentir para ter capacidade de ajudar! E é neste sentido que quero expressar aqui a minha certeza de que os técnicos portugueses e os técnicos africanos lusófonos, que são os executores e responsáveis imediatos desta cooperação, constituem, pelo empenhamento e pela dedicação que genericamente têm colocado nas acções em que estão envolvidos, um pilar básico desta obra comum.
Eles têm sido, e confio que continuarão a ser, o ingrediente - motor mais sólido, porque medularmente humano, desta autentica “conspiração de Amizade”, que nenhum orçamento poderá jamais contabilizar! É esta “teia de fraternidade” que nenhuma tecnocracia avançada poderá alguma vez forjar e manter. E é esta capacidade, não tanto de falarmos a mesma língua, mas sobretudo de falarmos a mesma linguagem de sentimentos de vida, que nos junta e nos faz querer continuar em conjunto.
Aveiro, 13 de Maio de 1989