1961 foi um ano péssimo para o Ouvidor do Kimbo. Já no 3º ano da Faculdade, ele vê, subitamente, caírem por terra os sonhos de, após concluído o curso, regressar a Angola, e, contribuir para o engrandecimento da sua terra, sem abdicar da sua Pátria.
Acabamos de resolver enviar ao Governador Geral de Angola um telegrama: “ Estudantes Universitários Angola, residindo provisoriamente na metrópole, pedem V Exª seja interprete população Angola, nossa incondicional solidariedade, firme decisão defesa integridade essa sagrada terra, desejo ninguém abandone Angola”.
Temos recolhido mais assinaturas para a nossa carta, mas só esta noite nos reuniremos a fim de decidir se a publicamos ou não. Vou defender o princípio da sua publicação, pois acho que é preciso “abrir fogo” contra o “M.P.L.A”.
Não tenhas receio, eu terei as devidas cautelas.
A situação tende a normalizar-se.
Nova – Lisboa é um grande baluarte, o maior depois de Luanda. Se um dia Luanda e Nova Lisboa caíssem, Angola estava perdida. Os meus Pais continuam em Luanda, pois têm em casa a minha tia e os meus primos. Por enquanto eles não regressam ao Quitexe e, por isso, os meus pais têm de ficar ao pé deles. O Ministro do Ultramar já tomou várias medidas, mas não me parece que elas sejam suficientes. Creio até que estão muito aquém disso. O irmão e a cunhada do “Alfafa” morreram assassinados! Ainda eram meus primos em 3º grau.
Correm alguns boatos sobre o Adriano Moreira, segundo os quais ele estaria furibundo com o “califa”. Em que medida isso é uma verdade ou uma mentira com intuitos, eu não sei e em boa verdade também não interessa grandemente saber. Naturalmente, eu continuo a pensar que ele é um homem muito inteligente e que provavelmente continua a ser a pessoa mais indicada para o Ultramar. Mas não acredito em mais do que isso, pois infelizmente, tem-se visto demais sobre os homens públicos para se poder concluir que eles se interessam exclusivamente pelos seus pares. Daí que a inteligência quase nunca ande, neles, ligada à honestidade. Mas, verdade, também não sei em que medida e com que intensidade é que isso é, ou não, consequência inevitável das funções políticas.