Nhá- Rueno, cambaleando, foi sentar-se na esteira, ao pé do fogo, e ali se ficou absorto, de cabeça tombada sobre o peito. Lá fora a tempestade rugia ainda…
O outro dia amanheceu claro, sem sombras a entristecerem o horizonte. Manhã aberta, já Nhá-Rueno estava no pátio do Posto, silenciosamente aguardando que o capitão lhe desse ordem de entrada na secretaria. Esperava calado, afastado dos companheiros que formigavam no átrio, mas no seu rosto fechado perpassava uma decisão inabalável.
-Nhá-Rueno- chamou lá de dentro, a voz fanhosa do cipaio. – Pronto- retorquiu o negro; e levantou-se e entrou no gabinete acanhado do Posto.
- Fui eu, meu chefe. Eu mesmo matou o homem, meu chefe. – Contava o preto o sucedido na noite da briga, com largos gestos de braços, ao chefe do posto, a quem de livre vontade, se viera apresentar, para que o homem branco fizesse justiça.
-Pois agora, como você arranjou milonga, vai no São Tomé exclamava o funcionário, assombrado com a honradez e coragem de quem, sem tradições de civilização e apenas ensinado pela palavra do branco, de forma tão espontânea se vinha entregar à autoridade da região.
Não faz mal, Xindér. Eu matou, vai mesmo si siô.-
E saiu. Cá fora passou ao pé de outros pretos. - “Você és burro”- segredou uma voz no meio da turba. Encolheu os ombros; cuspiu para a frente; e cabeça altiva suportando o olhar depreciativo dos outros presos, Nhá-Rueno foi-se afastando aos poucos, na claridade da manhã, por entre os vultos fardados de dois cipaios, que o conduziam amarrado, pela cintura, para o calabouço húmido da prisão dos negros. Ia cumprir pena.
FIM