quinta-feira, 9 de junho de 2011

CONCERTAÇÃO SOCIAL – UM POUCO DE HISTÓRIA (2)

O fenómeno da concertação social vai marcar, de uma forma decisiva, a segunda metade da década de 80 e vai mudar o paradigma do sub- sistema de relações industriais e, de certo modo, o próprio modelo político global português, não na sua expressão jurídico - institucional, mas na sua funcionalidade concreta.

As circunstâncias dessa época eram particularmente penosas, do ponto de vista económico, financeiro e social. No dealbar de 80, Portugal defrontava-se com uma situação de alarme, que exigia medidas de austeridade e saneamento económico-financeiro.

Para ilustrar a situação à data existente, recordo, que a taxa de inflação superava a barreira dos 30% ao ano, que o desemprego atingia níveis há muito não vistos no País (8,8%), que o fenómeno dos salários em atraso se generalizava em dezenas de empresas, sobretudo nos pólos industriais, e que, enfim, Portugal se via obrigado a negociar com o FMI um programa de saneamento e de estabilização económica.

Daí a necessidade sentida pelos partidos políticos da área governativa quanto a um entendimento com os sindicatos, e com as organizações patronais, por forma a garantir-se uma solidariedade que permitisse a eficácia política na governação e a estabilidade social.

Este objectivo só pode obter-se por negociações, nas quais os sindicatos que não se orientam por estratégias de mera oposição política também estão interessados, desde que se assegurem de que os sacrifícios aceites podem ser por si controlados e são socialmente preferíveis a outras alternativas.

Brasil, Novembro1993