terça-feira, 7 de junho de 2011

LER, OU NÃO LER, EIS A QUESTÃO

Quanto mais leio, menos sei, ou melhor, adquiro mais conhecimentos, mas menos certezas. É angustiante não poder estar absolutamente certo dos principais problemas

Ao ler descubro que as coisas não são simples, que é imensamente difícil compreender as razões opostas às minhas; descubro que perco muitas das minhas certezas, às vezes parece que perco a personalidade e que já nada sei. Muito do que está antes de mim está errado e o que está para depois é algo de incerto e inseguro.

A maior regra do cristianismo parece-me que é esta: “amai-vos uns aos outros como irmãos”.

Quando penso a fundo em muitos problemas, vejo que esta regra não a seguimos e, mais, como ela é extremamente difícil de se seguir.

Se me perguntassem hoje o que sou, confesso que não saberia o que responder com verdade.

Politicamente, não cheguei a uma conclusão sobre qual o melhor sistema e a única coisa que me parece razoável é tentar compreender as posições dos outros – o que se torna difícil e até doloroso quando essas posições se chocam com alguns princípios que mantemos; religiosamente, acredito em Deus por sentimento, mas a minha razão debate-se com dúvidas infindáveis; socialmente, parece-me que todos têm direito a uma vida melhor, mas tenho que começar logo por pôr o problema do que é uma vida melhor: se materialmente, segundo os modelos capitalistas, se religiosamente segundo os modelos católicos, se sem classes segundo os socialistas. Enfim, a sensação que tenho é esta: quanto mais livros leio, menos sei.

Lisboa 29 de Dezembro 1962