segunda-feira, 3 de setembro de 2012

CONCERTAÇÃO SOCIAL – O EQUÍVOCO MEDIÁTICO



Excerto de um texto publicado na revista “ Competir” – Informação para a industria,  Ano VI, nº 3/4 1995


A concertação social é um processo caracterizadamente político e não jurídico. É natural, pois, que as negociações entre o Governo, as centrais sindicais e as confederações patronais suscitem aos órgãos de comunicação social o mais vivo interesse e que a opinião pública acompanhe com expectativa o noticiário das negociações tripartidas.
Estimo, porém que à “sociedade mediática” acabe por escapar muito do que de relevante e crescentemente mais valioso tem sido objecto das discussões, porque estas estão longe de se reduzir à fixação dos referenciais para os aumentos salariais. É esta, todavia, que ocupa o espaço das transmissões televisivas e radiofónicas e os cabeçalhos dos jornais, ofuscando  matérias de grande importância e consensos decisivos que se vão obtendo em outras áreas da concertação social. (…). O “ Acordo Económico e Social” de 1990, abriu a porta a uma flexibilização controlada e pré-negociada da legislação laboral. Os acordos complementares de 91 (sobre, respectivamente, segurança, higiene e saúde no trabalho e política de formação profissional) e o acordo de 92 que, por exemplo, contemplou um aumento das deduções de IRS dos rendimentos do trabalho dependente, criou o “Observatório do Emprego”, autonomizou a dedução de IRS das despesas com a habitação até um determinado montante, introduziu medidas de sentido idêntico em relação às contas “poupança-habitação”. E quem se recordará que em anos posteriores as três partes aceitaram discutir questões tão importantes como a urgente melhoria do ensino pré-escolar, as medidas activas e passivas de combate ao desemprego – a aumentar preocupantemente, nos últimos dois anos – os factores favorecentes da indispensável melhoria da competitividade das nossas empresas, a necessidade de simplificar procedimentos na Administração Pública, o imperativo de atacar o trabalho clandestino que defrauda os orçamentos públicos, desprotege o trabalhador e desvirtua as condições de uma sã concorrência entre empresas. (…) Eis o que considero  um grande passo em frente. (…) Será de decisiva importância – neste cenário inevitável do que será a União Europeia – consolidar e aprofundar a concertação social. Ela é, não duvido, um factor chave para que Portugal chegue a 1999 como um País que melhorou o seu nível de bem estar e como uma sociedade que se sente a si própria mais justa.”  


Lisboa 2 de Junho 1995