sábado, 15 de janeiro de 2011

CONSEQUÊNCIAS DO DESEMPREGO

"As consequências humanas do desemprego são evidentes.
As sequelas sociais derivadas da perda progressiva da identidade pessoal e dos laços comunitários estão diagnosticadas: desagregação da estrutura familiar, aumento da criminalidade, da prostituição, entrada no mundo da droga, abandono ou insucesso escolar, subida dos índices de doenças do foro psiquiátrico ou físico – para só mencionar algumas evidências.
E estas implicam, ou ficam implicadas, noutras consequências não menos graves: xenofobismo, racismo fundamentalismo de vária ordem, no fundo, a intolerância face aos outros.

Por detrás, perfila-se um cenário de luta entre homens, a que, tecnicamente se deu o nome de “dualização” da sociedade.
É por um lado, a oposição entre os mais qualificados e com empregos “em carteira”, e os menos qualificados, vulneráveis ao desemprego, ao emprego precário ou destinados ao mercado de actividades informais ou tarefas clandestinas.
Mesmo dentro da camada previsível de empregabilidade, descortina-se já outra fractura: entre uma “elite” do saber e uma faixa de meros executantes ainda que habilitados.
É por outro lado, a oposição que desponta entre os contribuintes dos sistemas de protecção social e os beneficiários das respectivas prestações, cujo número aumenta por força da tendência demográfica de alterações nas estruturas familiares, ou devido à “cascata” de exclusões induzidas por mudanças estruturais.
Coloca-se, aqui, a questão dos custos acrescidos no funcionamento destas despesas, que não é um problema apenas técnico (todavia difícil), mas uma questão de sociedade – logo, uma questão política.
Perpassa-me, por isso, a sensação de que o problema do desemprego, incluindo o dos jovens, exige uma mudança individual e social. E esta implica o desafio de reconciliar o Estado e o cidadão, o económico e o social, o mercado e o trabalho, o ambiente e a terra, os valores de identidade histórica e a descoberta de direitos e deveres novos que recoloquem o homem como pólo de liberdade e de realização de si próprio e dos outros.
Em síntese: há necessidade de uma diferente e operativa harmonia entre o político, o económico, o social, o cultural, e o ecológico, criativa de valores de civilização duradouros e não, apenas, de modas passageiras.
Esta é uma questão política central na hora presente. Sem uma mudança cultural não haverá solidariedade social no respeito pela liberdade.
Eu preferiria dizer de outro modo: liberdade significa solidariedade social, a solidariedade social significa liberdade.

A mudança cultural implica assumir conscientemente e praticar responsavelmente os valores implícitos nesta visão."
Maio de 1995