domingo, 2 de janeiro de 2011

Colonização Portuguesa em Angola

Falar da colonização portuguesa em Angola é desbobinar, na tela do presente, o vitalismo de um Povo que, na ribalta do passado, soube radicar no solo virgem da África infinita o tique inconfundível da sua própria personalidade.
Angola é toda ela, aliás, um longo rosário de contas, cada qual desafiando quase a mesma tradição, os mesmos usos e anseios que a Mãe – Pátria encerra.
Da saudade que restou da abalada para uma terra de ninguém e da memória de um lenço branco que fica a acenar, lá ao longe, no cais, não pode rezar a história.

Houve que desbravar-se o mato denso, abrir-se o caminho pelo aglomerado espesso da vegetação e erguer-se os tectos dos primeiros abrigos.
Foi necessário amimar os campos e amanhar as terras, que o solo era virgem e não compensava à primeira sementeira que lhe atirassem.

Depois, surgiram as primeiras horas de amargura a arrefecer o sangue quente de um espírito aventureiro
Na verdade, eis a geada que vem queimar, numa só noite, o trabalho regado por suor de meses; a praga maldita de gafanhotos a destruir, num ápice, uma esperança que prometia fruto; é a semente de trigo que não germina, porque o solo é falho de adubos, e são as chuvas e o granizo, num coro desvairado de entraves, a retardar a labuta incansável pelo pão de cada dia. O pobre colono, alma esfarrapada por tanta desilusão contínua, vem sentar-se à soleira da sua cabana, mirando, apático os longes da terra sem fim…
Um facto é porém evidente: se na época atribulada dos primeiros tempos de trabalho, o colono tem resolvido desertar, sem dúvida que, à emigração pessoal, se seguiria a debandada colectiva e viria, então mais um malogro, a juntar a tantos outros, mais o desmoronar de uma probabilidade que se tornou, depois, em certeza consoladora
.
E nesta perseverança e tenacidade inigualáveis do camponês anónimo está afinal, o âmago do mistério da portentosa epopeia colonizadora do Português, que ao mundo assombra e faz cismar outros povos ultramarinos.
Matem-lhe as ilusões que, à partida, alimentava doidamente; leve-lhe a morte a mulher que com ele partilhava do leito conjugal; que o destino lhe roube, numa noite de borrasca, as espigas loiras que campos além já namoravam a face do céu - pois ele ainda assim, quedar-se-á hirto e rijo, o rosto molhado de pranto sentido e a boca a rebentar pragas de raiva, mas, de para si, murmurando como num sonho:
Morra um homem… morra um homem, caramba, mas fique a obra!”
Na verdade, a Obra ficou do homem; o Homem,… esse ficou na OBRA!!!
Lisboa 1958