A história demonstra-nos como o sindicalismo foi, em tantas ocasiões, um baluarte da liberdade e um motor da justiça social.
Não falta quem fale de «crise do sindicalismo» e alguns apregoam, até, o seu apagamento progressivo.
As grandes mutações económicas, as inovações tecnológicas, as migrações profissionais, novos valores e modos de organização produtiva e de comportamentos alteraram o mercado de emprego e tem contribuído para conduzir, nuns casos à perda de efectivos sindicais, noutros casos, à persistência de situações de fragilidade sindical.
Não partilho, todavia, a opinião de que se deva falar de crise do protagonismo sindical.
O seu papel como agentes de mudança positiva é indispensável e deve ser estimulado.
É impossível negar, no entanto, que hoje, a acção do sindicalismo é política, ou tem grandes repercussões políticas.
Até onde deve ir essa evolução por forma a que ela não altere a fisionomia do sindicalismo como movimento autónomo?
É sempre importante que os sindicatos sejam verdadeiramente independentes, quer do estado, quer de outras organizações de natureza e funções diferentes.
Só assim ganham credibilidade acrescida e podem captar o apoio de mais vastas camadas de trabalhadores sobretudo das gerações jovens, porque estas estão sempre abertas às grandes causas da liberdade e da justiça, e porque é importante para o futuro da democracia envolvê-las, desde cedo, no exercício empenhado da própria democracia.
Não é vantajoso retardar ou bloquear as transformações sócio – económicas, porque a prazo, os custos serão mais pesados.
Mas é necessário, em contrapartida, consensualizar as transformações julgadas úteis.
A concretização desse entendimento entre governos, sindicatos e empregadores restabelece os equilíbrios, relança a confiança colectiva e gera impulsos decisivos para o desenvolvimento.
Nas sociedades actuais, percorridas por múltiplos canais de interesses sectoriais e atravessadas por uma cadeia multiforme de actores sociais, a lógica da interdependência e da solidariedade dos interesses deve vingar quer sobre o estatismo carismático quer sobre a conflitualidade feroz dos egoísmos que impedem o progresso em harmonia e na justiça.
Excerto de discurso proferido em Genebra, 3 de Junho 1992