segunda-feira, 9 de maio de 2011

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Trago os olhos naufragados

em poentes cor de sangue.


Trago os braços embrulhados
numa palma bela e dura,
e nos lábios a secura
dos anseios retalhados…
Enrolada nos quadris,
cordas mansas que não mordem,
tecem abraços…
E nas mãos presas com fitas
azagaias de brinquedo
vão-se fazendo em pedaços…
Só nos olhos naufragados
estes poentes de sangue…
Só na carne rija e quente,
este segredo de vida!...
e nem eu sei…
Para onde vou,
diz a lei
tatuada no meu corpo…
E quando os pés abrem sendas
e os braços se risquem cruzes,
quando nos olhos parados
que trazem naufragados
se entornam novas luzes…


Ah! Quem souber, há-de ver
que eu trago a lei
no meu corpo…

Alda Lara, Poetisa Angolana


O quadro foi adquirido no dia 28 de Abril de 1990 - I Congresso de Quadros Angolanos no Exterior. Esteve desde então no escritório do Ouvidor.