sábado, 28 de maio de 2011

EU ESCOLHI O BALÃO VERMELHO

É na altura em que se deixa de ser moço para se ser homem, que escolhemos os caminhos da encruzilhada: ou se quer ser adulto – jovem, ou adulto sem ser jovem.

Toda a gente tem o seu “Balão Vermelho”.

Ao chegarem à tal encruzilhada, uns largam-no – e o balão arrebenta – outros preferem continuar com ele. Destes últimos, ainda há contudo duas categorias a referir: aqueles que, levando-o consigo, são alvos de risota, de desdém e desprezo; e os que também, sem o largarem, conseguem contudo que o mundo os olhe com admiração respeito e carinho.

Dois grupos que partem do mesmo princípio, que seguem o único caminho possível para quem tem força e fé, mas que o trilham de maneiras diferentes. Os que preferem continuar com o balão, podem fazê-lo por dois motivos: porque o balão é algo de muito querido, que sempre os acompanhou e que eles não querem abandonar; e os que também preferem o balão, porque estão convencidos de que mais do que querido, é algo de valor.

O descomunal balão, pode ser um símbolo mágico de sonho e fantasia; mas pode - e deve – ser, além disso, uma coisa de valor que seja digna de ser passeada porque é forte e é dela que depende a nossa vida. Não interessa andar só com o balão porque ele é o nosso sonho de “menino e moço”, o nosso companheiro de todas as horas; interessa mostrar ao mundo que o balão da juventude foi sonho quando o devia ser; é uma força, agora, dotada da poesia da mocidade e do valor da maturidade.

O que eu quero dizer, afinal, é que o balão que nos acompanha, representa algo de valioso que desejamos obter. A sociedade rirá, dos que andam com o balão numa euforia de fantasia e sonho; essa mesma sociedade fechará o sorriso e olhará com respeito aquele que lhe mostrar o seu balão, cheio de sonho e quimera, mas repleto de vitalidade e de provas concretas de que esses sonhos não são só lindos por serem sonhos, mas porque são sonhos que alcançaremos a lutar.

Eu escolhi o balão; simplesmente, eu não tenho medo de o mostrar e de passear com ele; o meu balão não é só cheio de sonhos e quimeras: quimeras e sonhos não são para mim só símbolos – são valores que eu transformarei, der por onde der, em realidades, para que a sociedade admire e respeite o meu balão.

Lisboa 1958