A ocorrência do diálogo tripartido para efeitos de definição dos programas sócio - económicos do país, é mais ou menos fácil consoante a estrutura e a representatividade do movimento sindical e da parte empresarial.
Se os parceiros sociais, reconhecendo-se ambos como representativos de interesses opostos, não se aceitam reciprocamente enquanto autores possíveis – e até mutuamente desejáveis de um processo de concertação na tomada de decisões socioeconómicas de carácter global, os caminhos para um entendimento mínimo estarão muito mais bloqueados.
Quando a outra parte é “assumida” ou encarada como um inimigo a abater custe o que custar, e não como um adversário com quem se lute pela negociação, creio ser avisado pensar que a estratégia surgirá nesse caso com um peso prevalente sobre a estratégia do diálogo.
As forças sindicais podem apostar numa estratégia de confronto mais ou menos acentuado, se entenderem e concluírem que esse papel contribuirá para uma alteração da situação política que elas próprias reputem como favorável aos seus interesses e aos objectivos.
Se a avaliação do contexto político levar as forças sindicais a concluir, por exemplo, que existem perigos de “direitização autoritária do regime, isto pode conduzi-las a uma estratégia de negociação e de procura de entendimentos, mais do que à opção por uma estratégia de confronto.
O mesmo, também pode acontecer do lado empresarial. O “liberalismo” que é clássico ser defendido pelas confederações patronais pode escamotear, no fundo, objectivos muito diferentes. Por um lado pode escamotear uma verdadeira “delegação” no Governo da tomada unilateral de medidas que sejam de orientação favorável ao empresariado, logo, pode esconder o papel real de não assumpção de um protagonismo social, o que conduz potencialmente a uma estratégia, pelo menos inicial, mais de confronto do que de diálogo.
Por outro lado, no entanto, uma filosofia empresarial liberal mais real ou autêntica conduzirá, eventualmente, à aceitação do ponto de vista basilar de que a sociedade evolui necessariamente e que não podem deixar de ser adoptadas reformas, logo, o lado empresarial estará então mais disposto a assumir um protagonismo efectivo, e consequentemente a adoptar uma estratégia que não recusará, em princípio, o contacto e a negociação social.
Março 1981