terça-feira, 24 de maio de 2011

A RAZÃO DE SER

O nosso Pai escreveu este pequeno texto no mês de Fevereiro de 1957. Tinha 16 anos. Ao lê-lo, compreendemos bem o seu percurso de vida. Todos os seus dias foram de um empenhamento profundo e total. Nada procurou. Tudo lhe aconteceu. Tudo viveu com a mesma fé e determinação com que escreveu estas breves linhas. Não há destino. A sua vida foi uma permanente construção de oportunidades que posteriormente o apanharam pelo caminho.

“ O génio é, muitas vezes, uma longa e demorada paciência”…

Feliz ou infelizmente sou daqueles que não abdica do direito de viver para viver, e não de viver por viver. Sou daqueles que ainda possui uma crença e uma fé, uma religião e um Deus. E assim estou pronto a despertar a risota dos alheios, ao gastar papel e tempo precioso, deixando correr a pena sem pretensiosismo nem soberbas, a não ser a da paciência. Hora a hora, passo a passo, como o caracol se bamboleia vagarosamente, eu cá vou seguindo o caminho que decidi percorrer.

“O génio é, muitas vezes, uma longa e demorada paciência”…

Não quero ser génio, mas desejo, com tal ardor e veemência, ser homem de construção edificante, e não de levantamentos obscenos, que também sei ter a paciência, necessária e suficiente, para saber que, se, o que faço neste momento não presta, pode, com as bases da persistência e do querer, fazer valer a pena o desgosto que me causa, de não ser ainda ninguém!!!

E aqui está a razão de ser, uma razão suficientemente apegada e cimentada, um facto que me leva a encher linhas sobre linhas, com o único intuito de treinar a mente para o desafio decisivo.

A jogada, por enquanto, só tem esquemas e não possui força capacitória; mas o que, hoje, é simplesmente esboço desinteressante, pode vir a ser, amanhã uma aguarela vincada e com personalidade. E quando os traços atingem os laivos de “fonte superior”, o quadro vale a fortuna e o seu peso em oiro!!! Entretanto, esperando e aguardando, limito-me a breves ensaios e a desperdiçar papel tempo e paciência; lá chegará a hora de entrar em campo e dar os primeiros pontapés a sério na bola da vida!

O meu querer é a moldura embaciada e fraca do quadro que hei-de pintar; que as tintas e as aguarelas a usar com esta confiança sejam o retrato precioso e inquestionável da face do Destino, subjugado à minha vontade: que a paciência do génio é a minha razão de ser.