Encontramo-nos, agora, frente a um galengue, que trota, orgulhoso, um pouco à direita da fita que os nossos carros desenham ao caminhar. – “É um solitário” – murmurou o meu companheiro. Na verdade, para onde quer que os olhos volvam, não encontramos mais vultos nas imediações.
Vendo-se repentinamente cercado, o animal escava furiosamente o solo e dá ao rabo repetidas vezes lançando no ar mugidos furibundos. Um dos cornos, reparamos, está quebrado a meio.
Banidos das manadas em que nasceram, estes solitários arrastam, nas planuras, uma vida árida e desafortunada, arcando a sós com a canga da solidão. É precisamente um desses, que nós temos sob a mira das armas.
Da portinhola de uma das carrinhas avança, cautelosamente, o cano de uma “303”. O estrépito de um tiro acorda os ecos. Nada! Outra bala vai já lançada contra ele, e, mal esta zunia no espaço, uma outra a seguia logo.
Inacreditável! Não fora o leve estremecer do corpo, ao embater dos projécteis, e, julgaríamos que o animal não sofrera a mais leve beliscadura! Os minutos parecem, agora horas intermináveis… E, de repente, o solitário arranca em direcção aos carros, de cabeça baixa, enquanto nós metíamos armas à cara. Mas nem um tiro quebrou o silêncio! Passos dados, o bicho tombava redondamente no solo poeirento! Vozes nervosas comentam vivamente o acontecimento, só explicável pela resistência e vitalidade, quase incríveis, de que estes animais se revestem, quando atacados.
Estamos a marchar sob o sol escaldante do meio-dia. Deixado sobre a planície o solitário que a carne rija do seu corpo já nem para os negros se aproveita, dirigimo-nos neste momento, para umas árvores raquíticas, à sombra das quais repousaremos das canseiras da caça.
Na anhara ouve-se como que o resfolgar de uma máquina: é a terra inteira que bafora, ao perpassar do vento quente. Positivamente, estamos no centro de uma fornalha ao rubro. Descansemos, que a hora é de torpor e de modorra.