sábado, 7 de abril de 2012

INDEPENDÊNCIA

“O Tempo”- Mas em que sentido defende essa independência? Um trabalhador militante do PSD deixa de o ser?

Nascimento Rodrigues- “ Defendo a independência do poder sindical face ao poder político e politico-partidário. Claro que um trabalhador social-democrata pode e deve militar no PSD. Mas milita aí como filiado do partido, trazendo a este, como é natural, a sua vivência, a sua experiência do meio social em que vive em que trabalha. Confronta essa vivência com a de milhares de outros militantes, muitos dos quais são profissionais liberais, técnicos, agricultores, industriais, etc. como é próprio de um partido interclassista. E no PSD cimenta e aprofunda os seus ideais da social-democracia, compreende a essa luz a vivência dos militantes que não têm a condição de trabalhadores, procura com eles a comunhão nas grandes linhas de política partidária. Mas não faz acção sindical no partido ou através das estruturas partidárias. Não prepara listas nem define acções nem organiza programas sindicais dentro do partido. Tem de preservar a independência de pensamento e de acção especificamente sindicais, sob pena de ser “baronizado”. Porque então deixa, verdadeiramente de ser autónomo na actuação enquanto trabalhador e membro de uma organização de trabalhadores. A Democracia é pluralista por natureza e tem de alimentar-se da autenticidade organizativa e estratégica das forças sociais que fazem a liberdade e impulsionam a criatividade e o progresso na sociedade civil. Quando começa a mistura de funções e a confusão de planos das instituições abre-se a porta à fragilização da própria democracia. A linha de combate deve ser a inversa.

“ O Tempo”- Não é uma visão pessimista?

Nascimento Rodrigues- Antes fosse. Acredito plenamente que os trabalhadores sociais-democratas não querem isso. Mas se alguma coisa lhes posso pedir, então peço-lhes que reflitam maduramente. Acontece a todos nós, muitas vezes, defendemos soluções bem intencionadas, cujos objectivos radicam no mais autêntico desejo de engrandecer o País, de fortalecer a democracia, de expandir o PSD. Mas quantas vezes essas mesmas soluções não contêm em si o germe das desvirtualização de objectivos e são plataformas de futuros desastrosos que não se queriam. O PSD, a democracia portuguesa, os trabalhadores do País devem muito a tantos e tantos militantes sócio-profissionais ou da TESIRESD que, com denodo, esforço, sacrifício da sua vida familiar e profissional têm lutado pelo sindicalismo livre, pela melhoria das condições de trabalho e de vida em Portugal, pela implantação do ideário social-democrata. As excepções de oportunismo, de baixa querela pessoal, de indisfarçado interesse por cargos e apetite por benesses, essas existem como existem em todo o lado – mas não são a expressão largamente maioritária do trabalhador social-democrata e militante do PSD.É minha obrigação exprimir-lhes este reconhecimento e não é mais do que um simples acto de justiça fazê-lo.

“O Tempo”- Mas o que defende e propõe então nestas condições?

Nascimento Rodrigues- “ Acredito que o objectivo essencial na solidariedade entre todos os trabalhadores sociais-democratas não está de todo perdido. Nunca é tarde para corrigir o que antevejo como errado e desastroso. A autonomia de uma estrutura que congregue todos os trabalhadores sociais-democratas é desejável. Mas no respeito pelos princípios e valores fundamentais, ou seja, como estrutura não partidária e como expoente do reencontro aberto de todos quantos se reclamam do mesmo núcleo essencial de objectivos.

IN “ O Tempo” 5 de Janeiro de 1984