sexta-feira, 20 de abril de 2012

POEMA P'RA MINHA MÃE ÁFRICA

Minha Mãe África,
finalmente tu vieste.
Tu vieste como me fizeste:
sem distância, horizonte sem fim,
o ar calmo, quase parado, 
cheio de luar.
Ouço nos teus longes
o silêncio,
o silêncio leve e sereno
do reencontro comigo.
O silêncio que diz mil coisas
que eu digo a mim próprio.
Tu não tens fronteiras, Mãe África:
mas tu estás aqui, 
aqui ao pé de mim, 
aqui dentro de mim.
És tu, sim,
Mãe África.
És tu como te conheci.
És tu como me fizeste.
Na noite que já caiu,
noite longa e silenciosa,
não fala homem,
não ladra cão,
não muge vaca,
não chora cabrito.
Apenas este grilar,
das centenas de cigarra,
ou de formiga,
ou de grilo,
que me dizem que tu estás a viver.
E a tua vida entra dentro de mim,
e a minha vida fica maior,
e fico com mais vida para dar aos outros
e para dar a ti, também,
Minha Mãe África.
Oh, minha Mãe África:
eu não vou voltar
 de vez,
nunca mais.
Mas quando eu volto assim,
um bocadinho,
para te ver e encontrar-
é como se fosse 
aquele dia
em que eu voltasse de vez
é como se fosse aquele dia
em que eu tinha o mundo dentro de mim,
porque tu me davas o mundo
para que eu pudesse dar o mundo
- Aos outros e a mim.
Nunca mais,
nunca mais,
Minha Mãe África,
poderá voltar a ser assim.
Assim quando era ontem, que já não é hoje
e não será amanhã.
Mas deixa este bocadinho 
de hoje:
-Como se fosse ontem
-E como se viesse a ser
AMANHÃ.

Henrique Nascimento Rodrigues,  São Tomé e Príncipe, 6 de Dezembro de 1984