sábado, 14 de abril de 2012

A PAIXÃO POR ÁFRICA

 Começamos um novo ciclo na vida do Ouvidor.  Um ciclo, a que chamaremos o seu ciclo Africano. Utilizaremos algumas  memórias escritas já, nos anos 2000.
“ Jornal de Leiria - O que sentiu quando saiu  de Angola para estudar em Lisboa?”
Nascimento Rodrigues “Nasci em Angola e ainda hoje sou bastante marcado por África. Tive uma enorme dificuldade na adaptação a Portugal, no final do primeiro ano do curso escrevi ao meu pai a pedir para regressar. Não queria continuar, porque não conseguia adaptar-me ao clima, que considerava siberiano, a chuva deixava-me deprimido. Quando acabei o curso, sempre tive a ideia de regressar a Angola. Namorava, queria casar-me e a minha mulher estava no 5º ano de Medicina, de maneira que decidi ficar em Portugal mais dois anos. Comecei por fazer estágio na magistratura. Quando acabei, e para começar a trabalhar na magistratura, ia parar ao Corvo ou Boticas ou coisa do género e para mim não dava casar e deixar a mulher em Lisboa. Comecei então a trabalhar para o Estado, no chamado Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra. Era um serviço novo, criado no âmbito do actual Ministério do Trabalho e dirigido pelo dr. Pereira de Moura. Foi aí que comecei a minha carreira profissional e a orientar-me para as questões do Direito do Trabalho. Com o casamento, a minha mulher a tirar a especialidade, e os primeiros filhos, começou a esvair-se a ideia de regressar a Angola. Mas nunca perdi o bichinho de África”.
JL – Mais tarde  volta a trabalhar com países africanos. Como é que foi essa experiencia?
Nascimento Rodrigues- “Em Maio de  1986, o engº  Mira Amaral, na época ministro do trabalho convidou-me a iniciar a cooperação com os ministérios do trabalho de todas as nossas ex-colónias. Porque até aí as relações entre Portugal e as ex-colónias não eram abertas. Então criei um gabinete que trabalhava directamente com o ministro e iniciei a cooperação com países africanos de língua portuguesa. Em 1989, foi a primeira vez que em Portugal  se fez um encontro de Ministros do Trabalho de todos os Palop com o correspondente português”.
JL – O futuro e o desenvolvimento de Portugal passam por África?
Nascimento Rodrigues- “Sou um adepto da integração de Portugal na União Europeia, foi uma solução quase inevitável. Mas esta solução será tanto melhor quanto Portugal puder ter laços com África, com o Brasil e com países da América Latina. Teremos mais força e seremos mais ouvidos pelos países europeus”.

IN “ Jornal de Leiria” 24 de Janeiro de 2002