terça-feira, 3 de abril de 2012

TRABALHADORES SOCIAIS- DEMOCRATAS


Nos próximos posts falaremos dos Trabalhadores Sociais-Democratas através de textos do Henrique. Só assim poderemos compreender 1984 e explicar:
1. Porque abandona o Henrique a comissão política nacional do PSD (era vice presidente eleito em Montechoro),
2. Porque corta com Mota Pinto,
3. Porque nem sequer está presente no Congresso de Braga.

Em 1984 coexistiam no PSD duas sensibilidades laborais: os sócio - profissionais nascidos no 1º Congresso do PSD, a 26 de Novembro de 1974, (instituídos como estrutura partidária), e a TESIRESD, tendência sindical independente do partido, criada em 1978.  

 “A Tesiresd foi formalmente constituída no 1º Encontro Nacional dos Trabalhadores Sociais - Democratas, efectuado no Porto, em Outubro de 1978 após um processo acidentado. Com efeito, embora a organização e a instituição formal da TESIRESD estivesse pensada (e tivesse sido efectivamente lançada) com independência e com antecedência em relação a qualquer outro projecto de organização sindical, o certo é que o anúncio da criação do que viria a ser a UGT e o nascimento concreto desta no encontro de Lisboa em 1978, provocou um deslocamento da tónica inicial do projecto TESIRESD. Deslocamento, na medida em que a um projecto originariamente concebido no exclusivo sentido da organização de uma tendência sindical, no caso a social-democrata, que, assim, se pensava ir constituir o elemento dinamizador e catalizador de uma plataforma de unidade sindical democrática, a concretizar posteriormente com outras tendências, como a socialista – se sobrepôs a necessidade de assumirmos posição face à entrada imediata dos sociais-democratas na anunciada UGT, de iniciativa socialista.
Rigorosamente os dois projectos não eram, com não são, incompatíveis. Pelo contrário, eram e são indissociáveis, pois a organização e o reforço da TESIRESD significam e exprimem o poder dos sindicalistas sociais-democratas no seio de uma confederação sindical que, sem eles, teria e tem fracas possibilidades de implantação.
Mas a imcompatibilidade foi suscitada com base no argumento de que só após a constituição formal e a efectiva organização da TESIRESD seria lícito e conveniente pôr a questão da entrada dos sociais-democratas na UGT. É evidente que o argumento escondia, no fundo, a tentativa de obstar à unidade com a tendência sindical socialista, como forma não tanto de inviabilizar uma posição na UGT de pendor acentuadamente socialista, como, sobretudo, de ganhar tempo e criar espaço para a constituição de uma central de predominância social- democrata. (Quando não, mesmo, como forma de não deixar criar nada, ou seja, como forma de manter o monopólio da Inter).
A TESIRESD não nasce sob o signo do apoio inequívoco da totalidade (e talvez mesmo de uma maioria significativa) dos trabalhadores sociais-democratas, como tendência social democrata plenamente integrada na UGT; antes nasce como tendência que alberga tanto os que estão contra como os que estão a favor da UGT, estes últimos embora “militantemente maioritários”.
Há razões para supor que se mantêm certas oposições, dentro do Partido, à TESIRESD e à UGT e permanece um estéril e por vezes desgastante confronto entre a estrutura dos sócio-profissionais do PSD e a TESIRESD.  E mesmo órgãos e dirigentes do partido que não são contra estes nem contra a UGT não são também, em contrapartida, suficientemente sensíveis e abertos – como seria  indispensável num partido social-democrata – à problemática sindical”.

Manuscrito datado de 1980