domingo, 8 de abril de 2012

CARTA A MOTA PINTO


“Ao retirar-me da sala na última reunião da CPN, imediatamente após a votação do projecto de alteração dos estatutos do Partido referente à institucionalização dos TSD, exprimi o estado de espírito que essa questão, e sobretudo a votação ocorrida, me suscitaram.
…….
Permito-me recordar-lhe, antes de mais, que há muito tempo já,…… esclareci sempre que uma votação favorável da CPN sobre os TSD como estrutura partidária me obrigaria à renúncia do cargo para que fui eleito. Nunca fechei portas a qualquer solução, salvo a da monstruosidade de se aprovar um organismo partidário com finalidades sindicais e outras que, na prática, não têm nada a ver com co-gestão nem com sindicalismo. De facto, quando se actua para pressionar a designação de gestores públicos, para influenciar a nomeação em vários cargos de empresas públicas, ou da Administração, ou para exercer o papel de grupo de pressão corporativa dentro do partido, é preciso um grande esforço para fingir que está em causa apenas a questão da unidade de grupos sindicais ligados ao nosso Partido. Mas esta é a questão de fundo dos TSD, a que, agora não desejo voltar senão para recordar o que foi sempre a minha posição e o aviso leal, claro feito em tempo sobre as consequências que retiraria do beneplácito de outros dirigentes do Partido a tal estrutura……
A carta continua por seis longas páginas….
“ Neutralidade, foi sempre o que aguardei de si e o aconselhei a seguir, em homenagem aos interesses da sua liderança e do equilíbrio no Partido. Nunca pretendi que o Mota Pinto se declarasse e votasse a favor de uma das partes. Intentei sempre resguardá-lo nesta questão, mesmo em prejuízo manifesto da minha própria e bem conhecida opção. Não estou certo que outros o tenham feito. Mas é também pelos processos que se conhecem as pessoas e os objectivos……..
“Não me recusará ….. de considerar-me inviabilizado de manter uma solidariedade e um apoio não apenas a si como a alguns dos companheiros que mais estreitamente o rodeiam. Não se pode fugir às consequências das situações que se deixam criar”.
E termina:
 “Devo-lhe, como última palavra, um agradecimento muito sincero pela intervenção a que acedeu e que proporcionou ao Partido os resultados inestimáveis das últimas legislativas e um sopro muito grande de esperança. Estou convicto de que o Mota Pinto mantem potencial para continuar a protagonizar a liderança que os nossos militantes ambicionam. Não se trata de um elogio, descabido nas actuais circunstâncias, mas da verdade tal como a sinto. É essa mesma verdade que me leva também a sublinhar, por outro lado, o sentimento de enorme e angustiada preocupação por verificar que companheiros nossos, cuja isenção e lisura política são incontroversas estão a afastar-se do seu rumo. O meu desejo é de que o Mota Pinto consiga agrupá-los e liderar, não uma parte mas um conjunto expressivo do que melhor existe e simboliza o PSD como partido contra extremos.
É esse o voto que lhe deixo, na certeza de que o exprimo em função dos interesses do Partido e da estima e grande respeito pessoal por si”.