quinta-feira, 12 de abril de 2012

BRINCADEIRAS EM CABANAS


NÃO!
“Não quero ir fazer a sesta”. Estamos em Cabanas e os beliches de pintura alentejana são as minhas mais antigas memórias. Como aquelas do teu kimbo que nos contaste no teu blogue.
Foi preciso ler o teu blogue para as conhecer. E de Cabanas também nunca te falei. Nem de me sentar na garagem no Ferrel ao volante do teu Renault parado a guiar a minha vida e ser importante como tu. Ou muito tempo antes ao volante do carro de pedais em Azeitão teria eu então 4 anos.
São algumas das memórias de que agora falamos para te ter mais perto de nós. Nestes segundos depois lembramo-nos dos anos antes. E lembro-me das fondues, de vermos os Jogos sem Fronteiras, de correr à volta da casa em brincadeiras de miúdos. E vocês estão sempre presentes. Vocês também são o Pai. Vocês são as peças do puzzle que me constroem. As nossas memórias. As nossas vitórias. Os nossos desencantos. Vocês meus irmãos, são a minha vida. E hoje na morte do pai isso é cada vez mais claro, apesar das lágrimas que nos turvam a vista. As paredes frias cobrem o nosso abraço e choramos com ele:
“Ele vai estar sempre connosco”.
As paredes frias não estão lá quando lhe tocamos o rosto gelado para lhe dizer adeus. Mais uma peça. Mais uma memória.
Como a memória das grades de sumol que partilhávamos no Ferrel naqueles dias que passávamos juntos. Mas convosco todos os dias são para festejar. Festejar esta dádiva que ele nos deu. De sermos nós, cada um por si, mas todos juntos nas memórias passadas e no caminho futuro. Aquele que vamos fazer para lá das paredes frias. Sempre em conjunto.
E era isso que ele queria que fosse a nossa memória. Por isso não valia a pena falar das outras.

Este texto foi escrito pelo nosso filho Nuno no dia em que o pai morreu a 12 de Abril de 2010