terça-feira, 13 de novembro de 2012

DEIXAMOS O LUBANGO HÁ DEZ MESES


Ao rever muitos dos textos que o Henrique redigiu ao longo da sua vida, vem-me à memória o homem, o adolescente, o jovem adulto que os escreveu. E fico espantada com o fio condutor do seu pensamento, com a preocupação social que manifestam, com a inquietação que as situações de desigualdade lhe provocam, com a necessidade absoluta que sente, de, arranjar competências para as corrigir. De facto, terminar a sua carreira como “Defensor do Povo”, “Provedor de Justiça”, “Ouvidor”, “Ombudsman”, ou como lhe queiram chamar, estava inscrito no seu ADN.
O texto de hoje tem o título que o Henrique lhe atribuiu:
O PROBLEMA DOS ESTUDANTES ULTRAMARINOS
“ Os periódicos metropolitanos, designadamente o “Diário Popular”, o “Diário Ilustrado” e, salvo erro “O Século”, vêm-se referindo, de há uns tempos para cá, às necessidades e dificuldades que encontram, no Continente, os estudantes Ultramarinos, chamando a atenção de quem de direito para o grave erro que se estava cometendo, nomeadamente o de não dar a devida atenção a um autentico e verdadeiro problema, que muitos julgariam simples e fácil questão de adaptação. O desenvolvimento e a extensão que tomaram os problemas das províncias ultramarinas portuguesas, levou, felizmente, alguns sociólogos e estudiosos a dedicarem-se à juventude das nossas terras de além-mar que, na Metrópole, vêm continuar os seus estudos. E digo felizmente, porque o problema que se põe merece, a ajuda e a cooperação dos portugueses do Continente. Mas para que se solucione o problema, surge, primeiro analisar as causas, determinar-lhe os princípios, buscar-lhe a génese, para se arranjar solução.
Essas causas são de índole variada, e vão desde o campo político-social ao de ordem pessoal e sentimental. (…). Procuraremos, antes de mais, entender as causas desde as suas origens até às suas consequências; remeteremos, depois, o nosso pensamento para as soluções já adoptadas e para aquelas que julgarmos, em nosso entender, as mais convenientes. (…)”
O texto prolonga-se, brilhantemente escrito, brilhantemente concebido, como sempre foi seu hábito. O Henrique tinha então 17 anos. Tinha uma enorme ambição de intervir. Intervir para resolver, para mudar, para corrigir. Quarenta e três anos depois, mais precisamente a 9 de Junho de 2001, o jornalista do Semanário “O Expresso” coloca-lhe directamente esta pergunta:
O Expresso – Ser Provedor de Justiça é aquilo que esperava?
Nascimento Rodrigues – “Nunca esperei ser provedor de Justiça. A ideia que tinha do cargo corresponde à realidade, o que me surpreendeu foi o volume de queixas anuais (…), e o principal objectivo do provedor deve ser responder com a maior celeridade possível aos cidadãos.
Já no final do segundo mandato, em resposta à pergunta da Jornalista do Expresso sobre qual seria a medida ou intervenção que considerava mais emblemática no seu trabalho respondeu: “ O meu trabalho quotidiano, silencioso e persistente.”