quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O BOM GESTOR


“Mesmo como profissional, liberal (actividade que desenvolveu logo a seguir ao abandono do Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, depois do 25 de Abril de 1974), esteve sempre ligado às questões dos recursos humanos e do Direito do Trabalho. Diz que possui “ uma experiência de Estado, uma experiência liberal e uma experiência de empresas”. É esse rol de experiências que, em 1992, está na base do convite da Organização Internacional do Trabalho (OIT) a Nascimento Rodrigues. Cargo: Presidente em representação de Portugal. Convite aceite, o novo presidente desmultiplica-se em iniciativas, apoiando a preparação da legislação laboral em países como a Guiné Bissau e Cabo Verde. Três anos depois, em 1995, já se encontra a organizar um gabinete que levaria a acções de cooperação com África, a partir das ligações do Ministério do Trabalho com os homólogos dos PALOP. “ Foi uma experiência muito interessante, Trabalhámos na área da formação, do emprego e até da segurança”.(…)
Identifica como um bom gestor o profissional que reúna a capacidade de diálogo, a flexibilidade e a autoridade. “ Não pode ser de outra maneira. Não se pode cair na inacção, no deixar andar, como sempre se deixou. Tem de haver inovação, participação verdadeira, mas sem nunca esquecer quem comanda”. (…) É preciso que o Provedor seja também um gestor. É uma questão de racionalidade, Não vale a pena criar uma decisão muito bonita, muito bem feita e até muito justa mas que leve tanto tempo a terminar que depois perca utilidade”.
Resoluto, Nascimento Rodrigues confessa nunca ter aceite nenhum cargo de que desconfiasse à partida não ir gostar. Com a Provedoria, não foi diferente. “ O cargo de Provedor de Justiça é muitíssimo interessante, porque somos uma espécie de observatório das queixas dos cidadãos”.(…)
Apesar de terem passado pouco mai de dois anos desde que foi eleito, assegura já ser possível verificar mudanças. “Aquilo que tento fazer é dinamizar a instituição, não permitindo que ela se transforme num organismo burocrático ou num órgão semelhante aos tribunais, em que as pendências são longas, levando as pessoas a reclamar. Acho que consegui isso. Quando entrei para na Provedoria de Justiça, o número de pendências era de sete mil. Passados dois anos consegui reduzir o número para metade. Isso obriga a um trabalho diário, que em 90% dos casos inclui também fins de semana”.
Como memória mais marcante do percurso que encetou, Nascimento Rodrigues salienta a Presidência da Conferência Internacional do Trabalho. Muito embora a organização exista há dezenas de anos, foi ele o primeiro cidadão nacional a ocupar a presidência. E segundo as suas previsões “o segundo português a ocupar aquele cargo só o fará, seguramente, pelo menos daqui a 50 anos; foi uma experiência única”. (…)
Espírito conciliador e humanista, bem como a humildade e a capacidade de manter uma posição elegante, mesmo em graves situações de crise, são características referidas por quem conhece o actual Provedor de Justiça; que fora da Provedoria  se dedica à família (esposa, cinco filhos e ste netos), ao tão ansiado repouso e ao prazer da leitura. “ Gosto muito de ler bibliografia histórica, e não tenho grande ligação nem à poesia nem ao romance. Por exemplo agora ando a ler a biografia de Churchill”.
Lisboa, Fevereiro de 2003, In “Pessoal”, revista da Associação Portuguesa de Gestores e Técnicos dos
Recursos Humanos.