sexta-feira, 16 de novembro de 2012

MAKÈZÚ




- Kuakié!... Makèzú
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O pregão da avó Ximinha
É mesmo como os seus panos
Já não tem a cor berrante
Que tinha nos outros anos

Avó Xima está velhinha
Mas de manhã, manhãzinha
Pede licença ao reumático
e num passo nada prático
rasga estradinhas na areia…

Lá vai para o cajueiro
que se levanta altaneiro
No cruzeiro dos caminhos
Das gentes que vão p’ra Baixa.

Nem criados, nem pedreiros
Nem alegres lavadeiras
Dessa nova geração
Das “venidas de alcatrão”
Ouvem o fraco pregão
Da velhinha quitandeira.

- “Kuakié!... Makèzú, Makèzú…”
- “Antão, veia, hoje nada?”

-“ Nada, mano Filisberto…
Hoje os tempos tá mudado…”

- “ Mas tá passé gente perto…
Como é aqui tás fazendo isso?”

- “ Não sabe? Todo esse povo
Pegô num costume novo
Qui diz qué civilização:
Come só pão com chouriço
Ou toma café com pão

E diz ainda pru cima
(Hum… mbundu kene muxima…)
Qui nosso bom makèzú
É pra véios como tu”

- “ Eles não sabe o que diz…
Pru qué qui vivi filiz
E tem cem ano eu e tu?”

- “ É pruquê nossas raiz
tem força do makèzú!...!

Viriato da Cruz

IN" Antologia Temática de Poesia Africana
na noite grávida de punhais
Mário de Andrade 1975