terça-feira, 6 de novembro de 2012

VOLTANDO UM POUCO ATRÁS

Em Fevereiro de 2003, a revista “Pessoal” (Associação Portuguesa de Gestores e Técnicos dos Recursos Humanos), publica uma entrevista com o Provedor de Justiça, revisitando, de um modo intimista, todo o seu percurso de vida, pessoal, profissional e até familiar. No post de ontem tínhamos ficado na licenciatura .
 “ O jovem licenciado Nascimento Rodrigues resolve ficar na metrópole… Tinha ganho carinho pela terra que o acolhera… Ingressa na carreira técnica da função pública, no então designado Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, um organismo dedicado a programas laborais, às questões da área da formação profissional, do trabalho e da contratação colectiva. “ Era uma função multidisciplinar. Foi por aí que comecei a enveredar pelas questões laborais”.
É então que se inicia a longa ligação de Nascimento Rodrigues ao mundo do trabalho e das inúmeras questões a ele associadas. Grande parte da aprendizagem académica que realiza recai, precisamente, sobre o Direito do Trabalho. Agora ao olhar o passado, vê que não podia ter seguido outro caminho; era essa a sua vocação. (…)
Nos primeiros anos da democracia, o nome de Nascimento Rodrigues já pesa no meio político e económico. Na década de 80, tem uma imensa actividade parlamentar, chegando inclusive a presidir à Comissão Parlamentar do Trabalho. Em 1981, é Ministro do Trabalho do VII Governo Constitucional. “Tracei como meta o que denominei de Diálogo Social Alargado. Estávamos em 1981, numa altura em que falar de diálogo social alargado era sujeitar-me a que uma parte das camadas sociais me apelidasse de fascista ou reaccionário”. As condições político-sociais e económicas não o ajudam. Não obstante não tem dúvidas em afirmar que era por aí que as relações de trabalho deviam caminhar. O tempo deu-lhe razão. “ Tivemos na, altura, iniciativas do Fundo Monetário Internacional, em relação a Portugal, que nos obrigaram a certos sacrifícios com repercussões na área do trabalho. Essa foi uma das razões que me levaram a sair do Governo e a deixar a pasta de Ministro do Trabalho. Não quis aceitar as medidas do FMI, porque sempre defendi que as coisas deviam ser feitas a partir do diálogo social e da concertação. Posso por isso dizer, com algum orgulho, que fui o precursor da ideia, que naquela altura não se conseguiu realizar, mas que mais tarde se veio a comprovar ser a melhor solução”.

Lisboa, Fevereiro de 2003, In “Pessoal”, revista da Associação Portuguesa de Gestores e Técnicos dos Recursos Humanos.