sábado, 2 de abril de 2011

CARTA AOS MEUS TREZE NETOS (1)

Os ideais, se os temos, são para se alcançarem. Porque, ou nós temos a convicção de que somos alguém e, consequentemente, muito capazes de os alcançar; ou nos consideramos impotentes e então, claro, nem merece a pena ter ideais. Quem os tem deve lutar para os alcançar, mesmo que isso custe imenso e mesmo porque uma vitória difícil é mais gostosa do que uma fácil.

Portanto, a primeira etapa, em que vamos alcançar os ideais que se fomentaram na juventude, é morosa, certamente, mas vale a pena nós suarmos para obter o que desejamos, mesmo que se verifiquem uns trambolhões pelo caminho!

Se há ideais que nos parecem elevados, merece a pena tentar obtê-los. Se alcançados, pode ser que, eles se transformem em realidades amargas.

Mas o caminho não tem aí o seu fim. Quando chegamos à primeira plataforma, quando, portanto, temos nas mãos o primeiro ideal realizado – e mesmo que ele seja diferente do que esperávamos – outros ideais nós temos que criar e outra caminhada nós temos que empreender.

Isto, é como se fosse uma pirâmide: transposta a 1ª etapa os ideais deixaram de o ser para se tornarem realidade; mas, então, outros se alevantam e esses constituirão a 2ª etapa; quando terminada, outra e mais outra teremos que empreender e assim sucessivamente até morrermos.

Deus não nos pôs no mundo, para nos agarrarmos a um sonho, que, embora muito alto julguemos inatingível. Nós se vivemos é para lutarmos e para alcançarmos o que queremos; e quando atingimos o nosso objectivo, não é caso para ficarmos parados, cansados, desistindo de lutar mais, lá porque se chegou ao fim.

Cada vez mais, outros fins surgirão e a nossa vida será uma luta constante, uma caminhada com diversas etapas e diversos fins.

A nossa missão nunca se cumpre totalmente. Até à morte, há que batalhar. Só assim eu compreendo que se possa chamar a um ser humano “Homem”.



Lisboa, Junho de 1958