sexta-feira, 1 de abril de 2011

PEQUENAS ESTÓRIAS, (LISBOA11 DE JULHO 1958)

Meus Pais partiram há poucas horas ainda. Desta vez fiquei sozinho com mais responsabilidades do que as habituais, o que me faz sentir um peso enorme em cima de mim.



Não tentes sequer calcular o que eu sinto. Num meio tão diferente daquele em que eu vivi, sem poder contar com ninguém e tendo que lutar contra tudo, é difícil ver os pais partirem. Hoje deixei de ser criança, pelo menos tão criança como era.

Não podes calcular o que isto custa, saber que só eu governarei a minha vida, tomarei todas as decisões, enveredarei por este caminho, obrigado a pensar depressa, quando isso for necessário.

Não tenho medo. Se eu continuar a ser o que até hoje fui, eu sei que vencerei e que nada poderá obstar a ser aquele “alguém” com letra grande!, que eu quero ser.

Tu pensas que eu sou assim, pelo simples facto de ser orgulhoso, ambicioso ao máximo ou querer ser sempre vencedor? Não. Tenho um nome honrado, tenho obrigação de não deslustrar esse nome. É essa a minha maior ambição. Eu quero. É estranho que um “miúdo” de 17 anos fale assim? Mas eu não sou garoto. Eu só sou criança naquilo que vejo que devo sê-lo, porque, para o resto, eu já penso como um adulto. Para mim começou uma nova vida. Eu poderei, aparentemente, parecer modificado. A vida na metrópole, talvez mo venha a exigir; mas no fundo, cá no íntimo, eu serei sempre o que tenho sido, porque os meus Pais têm orgulho nisso, os meus filhos também o hão-de ter… e eu também! Queria que soubesses – que eu, serei eu, por toda a vida! Sempre, porque estou plenamente convencido, sem vaidades, que este é o caminho que eu devo trilhar, para ser um homem de bem, honrado e digno.