sexta-feira, 15 de abril de 2011

HAVEMOS DE DIZER "VITÓRIA"

Eu, pouco ou quase nada tenho estudado. Cheguei à conclusão inevitável de que não sou estudioso! (que descoberta…). A única coisa que tenho feito é ler, ler, ler até mais não! Ainda não me deitei uma vez que fosse, antes das 2 da madrugada! Aliás, creio que nunca tive tanta vontade de trabalhar e de me cultivar, como agora. Mas, infelizmente, trabalhar é bem diferente de estudar… De qualquer maneira, tudo isto não me poderá ser prejudicial, antes, contribuirá para a formação de uma mais ampla mentalidade cultural. E, sob este aspecto, estou convencido de que o trabalho não será infrutífero. Não calculas o dinheirão que tenho gasto em livros, especialmente naqueles que dizem respeito à minha terra! Esta noite vou acabar de ler “ Angola Portentosa”, do Capitão Gastão de Sousa Dias. O livro está um pouco desactualizado, mas ainda assim é bom. Recebi uma carta do Padre Noronha. Não sei se sabes que está como professor de Filosofia e de OPAN (Organização Política e Administrativa da Nação) no Liceu “Diogo Cão”. Citou em plenas aulas as minhas ”abalizadas” opiniões sobre a cultura dos rapazes angolanos, as quais, por sinal, são perfilhadas inteiramente por ele, segundo me confessa. Diz o Padre Noronha que se admirou francamente com o meu pensar sobre esta vida de cá em comparação com a de Angola (no aspecto cultural claro), e que me apoia.“Subiste 100 por cento na minha consideração” - diz ele! Como triste nova, vou-te dizer que a “Huíla dos Novos”… faleceu! Bastante pena eu tenho, mas isso só vem confirmar plenamente a mina opinião de que o rapaz angolano, em cultura, ainda é inferior ao metropolitano, muito embora as suas qualidades de inteligência, de nobreza e de trabalho sejam superiores aos de cá. Junto me enviou o Padre Noronha um convite do Director do Jornal da Huila para que remetesse os meus trabalhos para lá. E informava-me também, de que os contos que eu tinha enviado para a Huila dos Novos seriam publicados no outro Jornal, a pedido do Director. Naturalmente fiquei satisfeito por saber que a minha “prosa bárbara” tem tanta cotação no ambiente lubanguense. Angolano que me prezo eu quero ser dos principais a ajudar a minha terra a tornar-se melhor e maior, nem que para tanto, ao princípio tenha que contar com a antipatia (natural, aliás) dos meus compatriotas. Daqui a anos, teremos uma Angola muito mais culta e…. civilizada! E eu hei-de ser, se Deus quiser, dos primeiros na brecha! E havemos de dizer “Vitória”.




Lisboa 29 de Dezembro 1957