O maior erro dos jovens de hoje é o de não quererem procurar algo de mais forte e valioso que a hora que passa; é não buscarem aquelas raízes que prendem muito mais do que o ambiente e o agradável da companhia; é não arranjarem o motivo que os entusiasme permanentemente e não só por um espaço qualquer de tempo. Tenho ouvido dizer e tenho lido em autores de artigos, que tudo isto é motivado pela era que atravessamos; que as transformações por que o mundo passa são tão rápidas e as mudanças tão constantes, que a mocidade ganhou uma incerteza pelo futuro e, logicamente, não quer prender-se senão pela hora presente. Ora se isso que os “entendidos”dizem é verdade, a mocidade comete um erro: porque, se só olha para o presente e só se interessa pelo que se lhe depara num momento, ela deve lembrar-se sempre que se o mundo está sofrendo transformações tão bruscas e radicais, a hora presente também sofrerá essa mudança e desaparecerá. Se tudo muda a matéria também muda; o espírito, unicamente, esse não pode mudar, senão para uma transformação total.
Está visto que nunca poderei ser bondoso, porque essa virtude não nasceu comigo e não é coisa que se aprenda! Talvez, realmente, eu não seja bom; talvez haja, sempre em mim, um fundo de dureza, uma barreira muito minha que eu não gosto de ver destruída pelos outros. Embora! Se há erros em tudo o que penso, hei-de amargá-los mais tarde, ou mais cedo, se não há todos aqueles que não pensam como eu reconhecerão o caminho mau porque enveredaram e sofrerão, coitados. Contudo os riscos serão iguais para ambas as partes! Eu estou lançado no meu caminho, já não há nada que me faça recuar. Se ele estiver certo, eu sairei como um vencedor, eu serei sempre feliz; se não estiver, paciência, então talvez seja a hora de ter saudades e dizer que perdi a fé. Eu já sei o que quero, já vi o que estava errado e o que estava certo. Não vale a pena lamentar-me do errado; só quero prosseguir no certo - no meu caminho.
Lisboa Agosto de1958