segunda-feira, 9 de julho de 2012

A CONCERTAÇÃO SOCIAL EM PORTUGAL (2)


(…)” A experiência da concertação social em Portugal só veio a ter lugar a partir de 1984, com a criação, por um decreto-lei do Governo, do “ Conselho Permanente da Concertação Social.
É importante ter presente, como cenário de fundo dois factos:
Primeiro facto – No final da década de 70, foi criada a União Geral dos Trabalhadores (UGT), cronologicamente, a segunda central sindical portuguesa. O processo de criação desta confederação não foi fácil, porque, na prática, tratava-se de pôr fim a um período de unicidade sindical, fortemente marcada pela influência da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP). Ora, o entendimento entre as correntes político-sindicais democráticas ( elas próprias muito ligadas aos correspondentes partidos políticos) tornava-se difícil, exactamente pelo confronto político entre os dois maiores partidos democráticos: PS e PSD.
À época, uma tendência no interior do PS privilegiava o diálogo com o partido comunista enquanto outra propunha uma abertura ao PSD. Neste partido, ocorria algo semelhante, isto é: uma tendência social –democrata preferenciava o diálogo com o PS, enquanto outra o rejeitava, procurando entendimentos com o CDS.
É evidente que esta situação desencadeava reflexos na área sindical. E por isso o nascimento da UGT derivou de um parto complexo, como disse. Este tornou-se possível, devido, fundamentalmente, à circunstância de o então líder do PS, Mário Soares, e do então líder do PSD, Sá Carneiro, terem convergido na percepção da necessidade de uma conjugação de esforços para que o País alcançasse uma democratização também na área sindical. A isto se juntou, como é natural, a vontade e decisão dos sindicalistas socialistas e sociais democratas, e de outros, no sentido de fundarem a UGT. Mas uma corrente minoritária socialista ficou de fora e integrou-se na CGTP; e também do lado sindical social democrata houve fortes contestações ao acordo entre as duas grandes correntes político –sindicais democráticas. Esta divergência no interior da corrente sindical social-democrata perdurou e conduziu a uma progressiva fragilização do papel dos sindicalistas sociais democratas no seio da UGT.
Segundo facto- A criação deste Conselho de Concertação  deveu-se a um governo de coligação do PS e do PSD (chamado “Governo do Bloco Central”).
Ambos os partidos, cada um por seu lado, tinham apresentado, na campanha eleitoral, propostas autónomas no sentido de se impulsionar a concertação social no País. Mas era antevisível que nenhum conseguiria, por si só, alcançar uma maioria parlamentar. E a situação económica, financeira e social portuguesas era, então, verdadeiramente angustiante. Recorde-se que Portugal tinha, nessa época, uma taxa de inflação da ordem dos 30%, uma situação de desemprego real preocupante, um fenómeno de “salários em atraso” relativamente generalizado, e bolsas de enorme pobreza, para além de um deficit profundo nas contas nacionais”
Roma Março de 1992.