quarta-feira, 4 de julho de 2012

EM DEFESA DOS QUADROS TÉCNICOS DO ESTADO


Em 1991, numa entrevista subordinada ao tema, “ Quadros que foram Quadros que são,” o Henrique responde assim à “Revista dos Quadros Técnicos do Estado”.

Pergunta - O seu nome é mais conhecido como figura pública do que como quadro da função pública. Qual o seu “curriculum” na Administração Pública”?
Resposta – “Entrei, recém-licenciado, para o então Fundo de Desenvolvimento da Mão de Obra, como técnico tarefeiro de 3ª classe. Isso foi em 1964. O F.D.M.O era um organismo jovem, sem bloqueamento de carreira. Lá fiz o meu percurso técnico e de dirigente, sucessivamente promovido a técnico de 2ª classe, de 1ª e técnico superior, contratado. Chefiei a Divisão de Contratação Colectiva e só entrei para o quadro como Director de Serviços do Trabalho. Pedi licença ilimitada em Setembro de 1974 e vim-me embora. Como vê, tenho a “tarimba” de função pública”.
Pergunta – E foi-lhe fácil largar dez anos de Estado?
Resposta- “ Não foi fácil e foi até ousado no contexto específico que o País atravessava nessa época. Mas entendi que esse mesmo contexto já não me proporcionava qualquer realização pessoal e profissional. Além disso não estive para suportar oportunismos e incompetências chocantes a que assistia e não estava habituado. A Administração Pública em que me formei era, no plano técnico, bastante competente, séria e empenhada”.
Pergunta – É diferente a sua visão do sector empresarial?
Resposta – “ Estou muito longe de perfilhar uma visão idílica do sector empresarial, público ou privado, por contraposição à que faço do Estado. A minha experiência diz-me que num e noutro sector se encontram técnicos muitíssimos competentes, tal como pode encontrar-se o inverso. Aliás, o frequente é constatar-se o recrutamento de quadros do Estado pelas empresas sinal de que aqueles são válidos. O problema não reside, portanto, na capacidade técnica dos quadros da função pública. De um modo geral é seguro que a detêm. Penso que a diferença maior radica nos diferentes modelos de organização e dos correspondentes valores, nos métodos de gestão e nos processos de actuação. Não se pode generalizar, porque nem o mundo empresarial é homogéneo, nem a Administração é um bloco fechado e sem brechas. Mas nas empresas, porque são obrigados a competir e a desenvolver-se os quadros adquirem uma visão e um ritmo profissionais mais pragmáticos, mais expeditos, mais traduzíveis em resultados concretos”.


In “ Revista dos Quadros Técnicos do Estado”
Ano VI
Série II nº 4- Julho/ Agosto 1991