domingo, 8 de julho de 2012

A DEMOCRACIA E O DIÁLOGO SOCIAL



“ Hoje cada vez é mais entendível que a economia de mercado, a livre iniciativa empresarial, são motores de progresso. Na miséria, na fome, na injustiça, a Democracia não consegue implantar-se. Há, aqui, portanto, uma ligação entre Democracia e livre empresa, sempre que esta comtemple também a dimensão social inerente ao seu papel nas Sociedades Democráticas. Esta necessidade de conjugar sempre as reformas económicas indispensáveis ao desenvolvimento do País com medidas sociais que diminuam, ou pelo menos atenuem, os impactos que, por vezes, necessariamente, são desencadeados pelos reajustamentos estruturais das empresas ou sectores de actividade – deve estar sempre presente como pano de fundo da concertação social
Não há democracia sem livre empresa, sem espírito empresarial. Por isso, os empresários têm o direito de exigir do Estado, por um lado, dos sindicatos por outro lado, o respeito pelas condições necessárias ao desenvolvimento das empresas. Que melhor forma de exercer este direito senão, justamente, através do diálogo tripartido, mediante o qual as razões de uns e de outros podem der expostas e discutidas nas suas naturais conexões?
Quando defendo a livre iniciativa e o livre mercado, enquanto pilares da democracia, defendo igualmente os direitos legítimos dos trabalhadores e o indispensável protagonismo dos sindicatos.
Se e quando reformas económicas conduzirem a mais desemprego permanente, a novas situações de marginalidade social, a pobreza e miséria acrescida que violam a eminente dignidade de cada ser humano – então, se isso acontecesse, não tenhamos dúvidas que estaríamos a criar novos factores de violência nas nossas sociedades.
Ora, a violência, qualquer que seja a causa, e qualquer que seja o rosto sob que se apresenta, corrói sempre a democracia política, destrói  a democracia económica e corrompe a democracia social.
Por isso, sou adversário da violência. Por isso sou adepto do diálogo social.
Mas também a democracia não é, nunca foi, senão um sistema de lenta, penosa e difícil construção de uma ordem política, económica e social mais livre e mais justa. Não está nunca definitivamente conquistada, senão através da tolerância, do diálogo, do esforço permanente de compreensão e de busca de soluções comuns.”
Excerto de uma intervenção no Seminário da Confederação do Comércio Português
Lisboa, 26 de Junho 1992