domingo, 1 de julho de 2012

O HOMEM DOS BONS OFÍCIOS


O Conselho Económico e Social (CES) serve para quê? O seu presidente, Nascimento Rodrigues, vê-o como um lugar em que o Governo e os parceiros sociais podem discutir e entender-se. Quanto às suas próprias funções, o presidente do CES redu-las quase às de mero anfitrião. É, nas suas palavras,“ apenas o homem dos bons ofícios”.
Público – Como presidente do CES, tem sido muito discreto na sua actuação. Porquê?
Nascimento Rodrigues – “ Essa actuação não deve interferir nas estratégias, naturalmente diferentes, dos parceiros sociais que têm assento no CES e que não são apenas os parceiros sindicais e patronais, são também oito autarcas, as regiões autónomas, as associações de defesa do ambiente, dos consumidores, as instituições de solidariedade social (IPSS)o, etc. Quis que o presidente fosse uma figura que obtivesse um consenso para este efeito – e daí fazer os possíveis para não dar entrevistas nem fazer declarações públicas. Há sempre o risco de uma declaração ser mal interpretada".
P- A sua posição é meramente consultiva ou é vinculativa?
Nascimento Rodrigues- “ A posição do Conselho não é vinculativa para o Governo. Não é a minha posição, porque quem vota são os conselheiros, é a do Conselho. O presidente até não costuma votar."
P- Mas o CES tem capacidade de iniciativa. Os sindicatos acusam o conselho de não tomar praticamente iniciativas nenhumas – este direito não estaria, sequer, regulamentado…
Nascimento Rodrigues- O direito de iniciativa está consagrado na legislação que regulamenta o Conselho e no regimento que o próprio Conselho aprovou. As organizações com assento no CES é que têm direito de iniciativa. Se os sindicatos dizem que o Conselho não exerce o direito de iniciativa, porque é que os sindicatos não o exercem? Não é o presidente do CES que tem o direito de iniciativa: é o CES. E quem é o Conselho? São os membros das organizações que cá estão."
P- Diz que, no seu entendimento, não é o presidente que tem direito de iniciativa…
Nascimento Rodrigues – “Não. Por força da regulamentação do direito de iniciativa."
P- Não o poderia tomar?
Nascimento Rodrigues –“ Não, não. Sozinho não. Jamais. Isso seria uma presidencialização deste Conselho, o monopólio do CES através do presidente. Isso seria antidemocrático."
P- Mas quando, no Governo está um partido com a maioria absoluta na Assembleia da República, o senhor arrisca-se a ser acusado de estar conotado com as posições governamentais.
Nascimento Rodrigues- “ Corre-se sempre riscos quando se tomam posições e se ocupam lugares. Mas, se eu tomasse qualquer iniciativa sozinho, de que é que me acusariam? De estar a tomar iniciativas do próprio Governo. Respeitando em absoluto o direito de iniciativa que deve ser exercido pelos conselheiros, estou a respeitar uma regra de independência e de isenção. Portanto, acho que, se a crítica é feita, não é justa. Eu devolvê-la-ia neste sentido: quem tem o direito que o exerça."
IN “ O Público” 13 de Julho 1994