Ainda nos lembramos do que o Ouvidor do Kimbo nos contou, durante as férias passadas no Uíge, em 1959? O que acham que ele diria de um Natal passado numa aldeia do Alentejo em 1960? Vamos ouvir.
Não fazes ideia de quanto eu daria para me apanhar em Lisboa! Nunca na minha vida desejei tanto fugir de uma terra como desta! É horrível. Tudo quanto eu te possa contar representa um milésimo da realidade. Póvoa e Meadas é qualquer coisa parecida com o inferno. A linguagem desta gente é semi-barbara e indecifrável. Estamos mesmo ao pé de Espanha mas não há caminho directo. Se fores ao mapa, é possível que lá não encontres o nome desta aldeia medieval, mas podes localizar-me mais ou menos, pois está situada entre Portalegre e Castelo de Vide. Póvoa é uma aldeia completa. As ruas não têm mais de cinco metros de largura e são tortuosas. As casas, desalinhadas, baixas e feias. Há lama em toda a parte e os porcos chafurdam no jardim da freguesia. Os Correios de cá (Correios?) ainda trabalham a petróleo e creio que a correspondência leva dois dias a chegar ao seu destino.
Não calculas o frio que faz. Um frio como eu nunca supus haver.
A casa não tem aquecimento eléctrico e ainda por cima o meu quarto fica na parte mais ventosa. Os lençóis da cama parecem estar molhados. É a antecâmara do inferno! Passamos os dias sentados à lareira, onde as conversas, evidentemente, não me interessam nada. O termómetro marca 5 graus, e, isto, é na sala onde está a lareira! Agora vê como estará no meu quarto. Onde eu me vim meter meu Deus.! Agora é que me convenci para sempre de que nunca poderia viver na metrópole.. Dói-me horrivelmente a cabeça de estar o dia todo a apanhar o calor da lareira e a fumar, e, ao mesmo tempo tenho o corpo absolutamente gelado com a temperatura. Não posso suportar o pensamento de que ainda tenho que cá ficar uma semana e tal. Crê que não exagero na minha descrição. Ficar à lareira sem fazer nada senão conversar com pessoas desconhecidas, é simplesmente morrer vivendo.
Não fazes ideia de quanto eu daria para me apanhar em Lisboa! Nunca na minha vida desejei tanto fugir de uma terra como desta! É horrível. Tudo quanto eu te possa contar representa um milésimo da realidade. Póvoa e Meadas é qualquer coisa parecida com o inferno. A linguagem desta gente é semi-barbara e indecifrável. Estamos mesmo ao pé de Espanha mas não há caminho directo. Se fores ao mapa, é possível que lá não encontres o nome desta aldeia medieval, mas podes localizar-me mais ou menos, pois está situada entre Portalegre e Castelo de Vide. Póvoa é uma aldeia completa. As ruas não têm mais de cinco metros de largura e são tortuosas. As casas, desalinhadas, baixas e feias. Há lama em toda a parte e os porcos chafurdam no jardim da freguesia. Os Correios de cá (Correios?) ainda trabalham a petróleo e creio que a correspondência leva dois dias a chegar ao seu destino.
Não calculas o frio que faz. Um frio como eu nunca supus haver.
A casa não tem aquecimento eléctrico e ainda por cima o meu quarto fica na parte mais ventosa. Os lençóis da cama parecem estar molhados. É a antecâmara do inferno! Passamos os dias sentados à lareira, onde as conversas, evidentemente, não me interessam nada. O termómetro marca 5 graus, e, isto, é na sala onde está a lareira! Agora vê como estará no meu quarto. Onde eu me vim meter meu Deus.! Agora é que me convenci para sempre de que nunca poderia viver na metrópole.. Dói-me horrivelmente a cabeça de estar o dia todo a apanhar o calor da lareira e a fumar, e, ao mesmo tempo tenho o corpo absolutamente gelado com a temperatura. Não posso suportar o pensamento de que ainda tenho que cá ficar uma semana e tal. Crê que não exagero na minha descrição. Ficar à lareira sem fazer nada senão conversar com pessoas desconhecidas, é simplesmente morrer vivendo.