quinta-feira, 17 de março de 2011

Sindicatos e Partidos Políticos (7)

A verdade é que as lideranças partidárias não aceitam de bom grado que o protagonismo dos “seus” dirigentes sindicais ponha em causa os interesses e objectivos da estratégia partidária e o comando da própria liderança - e daí nem um passo irá até à tentativa, consumada ou não, vitoriosa ou frustrada, de anexar ou subordinar àquelas finalidades a acção e decisões sindicais, sobretudo quando estas atinjam forte impacte a nível nacional.

A essa natural tentação das lideranças partidárias só uma genuinamente forte e autónoma liderança sindical se pode opor com sucesso, o que pressupõe a autonomia medular das próprias associações sindicais.
O formalismo jurídico das concepções não é o melhor conselheiro para julgar destas coisas. Sendo os interesses o que são e os homens seus autores e actores, não é curial esperar um rosto celeste para o mundo terrestre das relações recíprocas do sindicalismo e dos partidos…
Mas será já, porventura, espectável e exigível que os altos dirigentes partidários e sindicais (precisamente porque o são) assumam e exerçam o seu específico estatuto na base de um relacionamento claro, estabelecido sob um entendimento consensual a respeito da matriz básica do subsistema de relações industriais e da subsunção harmoniosa deste no sistema político do País. Essa é a questão de fundo. O resto são peripécias mais ou menos importantes, e para alguns chocantes, da história das conjunturas politico-sindicais.

Diário de Notícias 1 de Março de 1992