Se os partidos políticos são organizações que visam conquistar o poder com vista a gerir uma sociedade de uma certa forma – forma esta que tem a ver com o interesse dos trabalhadores -parece ser inviável ao sindicalismo alhear-se da existência de partidos políticos.
Ora isto coloca o problema do relacionamento entre sindicatos e partidos.
Que forma de relacionamento é a que melhor garante a autonomia sindical? Esta questão tem a ver com a questão do modelo de sociedade.
Se o sindicalismo aceita, basicamente, as estruturas actuais do sistema, então a sua função não é a de agente principal de transformação social.
O sindicalismo limitar-se-á à pura defesa dos direitos laborais, melhorando nos limites do próprio sistema as condições de vida e de trabalho. Creio que esta é, no fundo a situação do sindicalismo americano. Mas convêm frisar que isto não tem nada a ver com a questão da “dureza” ou da “moleza” do sindicalismo, da sua força organizatória e dos êxitos da sua acção reivindicativa.
Eu penso que a questão do papel do sindicalismo na sociedade está no centro, é a essência do problema da autonomia.
No fundo trata-se de saber se o sindicato se atribui a si próprio um papel de contestação - reivindicação, de “poder compensador ou contrapoder”, de rectificador das injustiças e desigualdades; ou se, ao invés quer ir mais longe e portanto atribuir-se igualmente um papel de agente essencial de transformação social, lado a lado com os partidos e outras forças sociais.
Manuscrito 1981