quinta-feira, 24 de março de 2011

Uma concertação social renovada em Portugal

A concertação social é um instrumento de construção do progresso.Mas só é possível construir solidamente na base da confiança mútua e no reconhecimento recíproco dos valores e dos interesses de cada parte. As sociedades que procuram evoluir para patamares mais perfeitos de qualidade de vida e de condições de trabalho dos seus cidadãos defrontam-se com o desafio de compatibilizar dois grandes objectivos: modernização económica e segurança cívico - social.
A esta luz, é compreensível que também entre nós as confederações patronais reivindiquem uma margem mais ampla de flexibilização na gestão, na organização e nos processos de trabalho, tal como é entendível que as centrais sindicais reclamem menos precarização do emprego e maiores salários, em suma melhor segurança.
Não perceberia a razão porque os patrões portugueses seriam qualificados de reaccionários por desejarem o que o empresariado dos países evoluídos exige (e, em muitos casos, já tem), tal como não perceberia a razão porque os nossos trabalhadores seriam acusáveis de dogmáticos por defenderem condições de dignidade profissional e de bem - estar social irrecusáveis neste dealbar do novo século.
A primeira atitude a adoptar é, pois, a de entender a boa razão das posições de cada parte, à luz dos correspondentes interesses próprios e no quadro mais global dos interesses gerais do desenvolvimento económico e do progresso social do País, tal como ele for desenhado nas suas grandes linhas por um consenso mínimo e realista.
Estarão as confederações e as centrais sindicais em condições de entender os valores que comandam as posições e de captar os interesses que respectivamente protagonizam os componentes de cada bloco? Se assim for, nenhum insucesso dramático saldará a iniciativa a que meteram ombros. Nem sempre a negociação se conclui por um acordo.
Mas sempre deveria encerrar-se pelo reconhecimento mútuo de que, afinal, se compreenderam melhor as perspectivas e interesses legítimos de cada lado, e de que um novo e futuro passo no diálogo é possível e desejável, como resultado da validade e dos passos passados e em expectativa valorativa dos passos futuros.



Excerto de um artigo de opinião, publicado em Março de 1990, "Diário de Notícias"